Parte I
Meu
nome é Mariely e cá estou para falar da minha vida ou pelo menos contar o que
me lembro dela.
Eu
nasci em uma família pobre, mas isso não era problema para mim. Adorava minha
vida. Morávamos, eu, meu pai, mamãe e Tônia em uma pequena casa na fazenda onde
meu pai trabalhava. Enquanto uma ajudava
nos afazeres de casa a outra estava na roça ao lado de papai, colhendo frutas e
levando para casa. Era divertido até que os anos se passaram...
Estudar
era uma um sonho, via crianças indo à escola e queria estar no lugar delas, com
cadernos e livros indo aprender. Sonhava em ser professora e criar uma escola
para ensinar meninos que não tivessem condições, que precisassem trabalhar ao
invés de estudar.
Quando
estava com 11 anos meu pai faleceu e minha mãe não tinha condições de sustentar
nós três. Foi muito difícil tive que amadurecer, a dificuldade para sobreviver
aumentou, mamãe adoeceu e as coisas pioraram ainda mais. Surge então uma
solução, precisávamos nos casar e mudar de vida para carregar mamãe conosco e
salvá-la.
Isso
foi fácil para Tônia, ela era muito linda e feminina, tinha 16 anos, sabia
cozinhar de tudo e com seu jeito doce conseguiu cativar um jovem fazendeiro. O
nome dele era Henri, sua família era rica e ele administrava uma das fazendas
há alguns anos. Foi paixão a primeira vista e eles acabaram se casando. Porem a
família de Henri fazia oposição ao casamento, deu-lhe a fazenda que
administrava e cortou laços. Tônia levou mamãe e eu para morarmos com ela na
fazenda, mas não foi uma boa decisão.
Pouco
tempo depois mamãe piorou e Henri tornou-se agressivo, exigia que saíssemos da
casa dele. Às vezes de noite bebia e chegava em casa aos berros:
__
Exijo que saiam da minha casa? Sou obrigado a sustentar essa fedida. __ No
caso, era assim que ele se referia á Tônia agora __ Saiam.
Certa
noite mamãe fugiu, foi uma agonia, ela estava doente meu Deus, onde será que
ela estaria? Depois de muita procura recebemos a noticia de que ela estava
morta. E nem ao menos soubemos qual foi a causa exata.
Após
a morte dela tudo se complicou ainda mais, as brigas aumentaram e Henri estava
cada vez mais agressivo.
Até
que um dia ele me colou para fora, me enfiou dentro do carro dele e me levou,
sem rumo até me abandonar em um lugar deserto. Tônia bem que tentou me proteger,
mas apanhou e ele a deixou desmaiada e essa foi a ultima vez que eu a vi.
Eu
andei por horas, estava anoitecendo e eu não via ninguém nas estradas, não
passava sequer carros, eu estava assustada, me escondi na mata e acabei por adormecer.
Parte II
No
dia seguinte não sabia o que fazer, estava com fome, abandonada, suja,
desesperada. Caminhei por horas, o sol quente apontava que seria pouco mais do
que meio dia quando encontrei um carro.
Pedi
carona, o motorista parecia bondoso e disse que me levaria para a cidade mais próxima.
A viagem foi longa e o moço do carro me observava atentamente.
Comecei
a temer, não gostava do modo como ele me olhava, quis descer do carro, porém
temi mais ainda, me encolhi no banco do passageiro sem nada dizer.
__
Você tem quantos anos menina? __ Perguntou ele com um sorriso.
Gaguejando
respondi:
__
Tenho 13 anos.
Ele
sorriu ainda mais.
__
O que faz sozinha aqui neste lugar.
__
Não sei... __ o medo parecia querer saltar de dentro de mim.
__
Você sabe onde estamos?
__
Em Goiânia? __ Queria muito que a resposta fosse positiva.
Mais
um sorriso antes de falar:
__
Na verdade estamos nos aproximando de UNAÍ-MG.
O
desespero foi mais forte que eu, por um instante pensei que fosse morrer, mas
tentei me acalmar, respirei fundo e disse:
__
Tem razão meu pai me espera na rodoviária, tinha me esquecido.
__
Você morava com quem em Goiânia?
Percebi
que teria que mentir se quisesse ficar viva.
__
Meu pai é policial, morava com minha vó, só que ela faleceu, meu pai mandou um
amigo dele, o Charles, me colocar no ônibus, mas eu estava assustada, fugi e
quando me encontrou estava sem rumo, agora sei que devo descer em UNAI é lá que
meu pai me aguarda.
O
moço me analisou por mais um instante, lambeu os lábios, mas depois voltou a
prestar atenção somente na estrada. Parecia ter acreditado em mim.
Pouco
depois ele me deixou em um terminal rodoviário e sem nada dizer, se virou e foi
embora. Respirei aliviada e sentei em um banco na rodoviária para pensar no que
faria.
Tinha
treze anos, nunca tinha viajado para além do setor fazendário onde morei. Não
sabia nada do mundo, mas precisava erguer minha cabeça e recomeçar, precisava
encontrar minha irmã e salvá-la. Precisava honrar o desejo de mamãe de nos ver
bem de vida.
Lágrimas
escorreram por meus olhos. Olhava de um lado a outro sem saber como começar. O
que fazer e como fazer? Chorei. Até que meus olhos se fecharam e eu adormeci
ali mesmo no banco que estava.
De
repente uma voz me trouxe de volta:
__
Você está bem mocinha? __ Perguntou uma voz doce e melodiosa.
Abri
os olhos lentamente e pude ver uma moça que olhava para mim.
__
Olá, você está bem? __ Perguntou ela novamente.
__
Sim... __ Sussurrei me sentando no banco.
__
Eu vi quando aquele moço te deixou aqui, ele te abandonou?
__Não...
__
O que houve então?
Já
não aguentava mais, tudo era demais para mim, contei então para aquela moça
tudo que ocorreu e este foi um dos meus primeiros erros na vida.
Parte III
Eu
não sabia o que fazer e a moça me disse que poderia me ajudar. Mas que depressa
falei:
__
Faço qualquer coisa para sair daqui.
__
Eu trabalho em um lar de adoção para adolescentes e posso lhe levar para te dar
a chance de começar de novo.
Nem
pensei na proposta aceitei prontamente. Queria uma cama para dormir e comida, o
resto pensaria depois.
O
lar era subdividido em duas alas, uma para as mulheres e outra para os homens.
Eu conheci Cassie que me levou para conhecer os quatro cantos de lá.
__
Eu moro aqui a mais de seis anos e só fui adotada uma vez, mas não gostei da
casa e fiz eles me tirarem dela. __ Ela sorria ao falar como se sua vida fosse
magnifica neste lugar.
__
Espero não ser adotada... Não gosto da casa de estranhos __ falei começando a
entender a realidade de onde tinha me metido.
A
vida no lar foi legal no começo, fiz amizades, aprendi a cozinhar e podia
estudar, parecia que estava vivendo um conto de fadas.
Mas
quando completei 14 anos as coisas começaram a mudar. Conheci Victor Hugo, era
interno do lar a 6 anos, perdera o pai e a mãe em um acidente de carro. Ele era
carinhoso e atencioso comigo e sempre que tínhamos atividades integradoras nós
dois ficávamos juntos. Aos poucos foi surgindo uma paixão, comecei a querer
estar com ele mais e mais, daí quebrávamos as regras, dormíamos juntos, saiamos
do lar e com ele durante 1 ano eu conheci muito da vida e conheci o mais
doloroso que é se apaixonar e se entregar para algo errado.
Estava
grávida e Victor com 18 anos.
__
Estou gravida __ contei quando estávamos enrolados em seu cobertor no meu
quarto.
__
Como você sabe? __ Perguntou ele surpreso.
__
Só sei... __ falei triste.
Ele
ficou calado, se levantou da cama e sem nem olhar para trás saiu. Deixou o lar
no outro dia, me abandonou grávida e sem saber o que fazer.
Imaginei
que as pessoas demorariam a descobrir e por isso escondia o máximo que podia,
mas quando estava com um mês e meio comecei a enjoar frequentemente não
conseguia cozinhar e logo a supervisora Tania veio conversar comigo.
__
Querida, vejo que não está bem. Gostaria de me contar algo?
Eu
relutei um pouco mas depois me abri, contei como engravidara e contei também como
Victor Hugo me abandonou assim que soube.
Tania
pensou por um momento parecendo tentar assimilar o que eu havia dito, depois
falou enfim:
__
Precisamos resolver isso... Você sabe que não poderá ficar aqui com o bebe,
porem não poderemos de jogar na rua. Vou conversar com os outros supervisores e
veremos a qual conclusão chegaremos.
__
Tudo bem... __ falei com a voz embargada pelas lágrimas que tentava engolir.
Não
demorou muito e ela retornou:
__
Bem conversei com todos e a única coisa que podemos fazer para você é te
colocar a adoção. Temos um casal de 56 anos que espera uma menina com seu
perfil, 14 anos, loira, educada. Somente o bebê não sabemos se vão permitir mas
chamaremos eles para uma conversa hoje, o que me diz?
Eu
não queria ser adotada, mas não queria morar na rua com meu bebê, então pela
força da situação eu aceitei.
Pouco
depois o casal apareceu e eles ficaram horas conversando com Tania, depois pude
vê-los saindo sorridente da sala.
Assim
que desapareceram Raul, outro supervisor, veio falar comigo:
__
Você foi adotada Mari e amanhã a dona Susan virá te buscar, apronte-se para sua
nova vida.
Despedir-me do lar foi difícil, minhas amigas, os
supervisores, todos se tornaram minha família, mas ergui a cabeça e fui com a Susan
para mais uma etapa de minha nova vida.
No
carro não falamos uma só palavra, ela me olhava e sorria, colocava a mão na
minha barriga e sorria. Parecia feliz com minha chegada.
Quando
chegamos em casa ela me mostrou todos os cômodos sempre sorrindo carinhosa, me
mostrou o quarto que seria do meu bebê e o meu quarto e pediu que me acomodasse
e descansasse que logo conheceria o Josh, marido dela.
Entrei
no quarto como se aquele fosse o portal para uma nova vida e feliz, troquei de
roupa, desfiz a mala e me sentei na cama olhando para o teto.
“Agora
vou conhecer a felicidade”, pensei. Serei feliz.
Parte IV
O
vô Josh e a vó Susan – como ele gostavam de ser chamados – me tratavam muito
bem. A minha vida naquela casa parecia mentira de tão bom que era, montei um
quarto para meu bebê com direito às melhores roupinhas e tudo mais. Estudava e
não precisava trabalhar só ajuda a Susan nos afazeres de casa, tinha acompanhamento
médico e tudo ia bem na minha vida.
Mas
quando estava com cinco meses de gravidez um sobrinho do Josh se mudou para lá
(Otávio), ele tinha 21 anos, era arrogante e mal educado, me maltratava e
tratava vó Susan com desprezo. Ele era o tipo de homem do qual deveríamos
sempre nos afastar.
Certo
dia Josh e Susan saíram de férias, foram fazer uma viagem para comemorar os 36
anos de casados e iriam passar um mês fora. Não queriam me deixar, mas eu
estava no meu período de provas na escola e decidi ficar.
Otávio
ficou na casa também, levava mulheres para casa, fazia festas, mas eu estava
sempre quieta, quando não estava na escola ficava no meu quarto sem nada dizer.
Uma
noite ele bebeu bastante e chegou em casa
revirando tudo, eu desci para saber o que estava acontecendo e foi este
meu erro. Quando me viu Otávio me agarrou pelo braço fora de si, foi me
arrastando e dizendo:
__
Você está gravidinha né priminha de mentira, agora eu vou lhe mostrar o que um
homem de verdade faz...
Eu
chorava e suplicava, estava com medo, sabia que suas intensões não eram boas
para comigo.
__
Não Otávio, me solte... por favor... por Deus não faça uma coisa dessas... meu
bebê... não...
Infelizmente
minhas suplicas foram em vão, ele me pegou e amarrou minhas mãos na cama do
Josh e da Susan, depois me bateu no rosto por diversas vezes, depois me
amordaçou e começou o estupro não me lembro bem como aconteceu, só sei que
senti dor e tentei me soltar mas ele me batia e fiquei com medo de perder o meu
bebê então consenti sem movimentar-me.
Quando
acordei no dia seguinte estava no meu quarto trancada, tudo em mim doía e mas
aparentemente meu bebê estava bem. No fim da tarde a porta do quarto se abriu e
ele entrou sorrindo:
__
Dormiu bem querida?
Eu
não olhei para ele.
__
Bem hoje vai ter uma festinha aqui espero que não se incomode... só vim aqui
para lhe avisar que o que houve ontem deve ficar só entre nós... se contar para
o tio Josh eu mato você. Hoje o Tadeu, um amigo meu que é medico, virá aqui
para cuidar de seus ferimentos. Fique bem priminha, mas tenha cuidado.
Ele
se virou e saiu. Eu fui até a cozinha para comer depois voltei para o meu
quarto e dormi. Quando acordei já estava com curativos e tinha um remédio em
cima da minha cômoda junto com um bilhete que dizia, para eu tomar um
comprimido de oito em oito horas.
Os
dias se passaram e ás vezes Otávio aparecia em meu quarto mas não me pegava
mais a força. Dizia para eu aceitar que ele não me bateria. E assim foi por
muito tempo, mesmo depois que Josh chegou com Susan ele não deixou de me
procurar e meu tormento era diário, sofria, mas tinha que esconder. Era horrível,
não sabia o que fazer.
Parte V
Eu
sabia que estava na hora de mudar novamente de rumo, não queria ir embora da
casa de Josh e Susan, mas viver com Otávio lá era inadmissível.
Certa
noite eu peguei uma pequena mala, coloquei algumas roupas para o bebê, escrevi
um bilhete me despedindo e saí, sem rumo novamente e assustada. Mas desta vez
eu tinha um pouco de dinheiro, recebia 350 reais de mesada e não gastava quase
nada, ao todo tinha 2500 reais guardados.
Fui
até a rodoviária e comprei uma passagem de ônibus, decidi me mudar para São
Paulo, lá recomeçaria, eu e meu bebê.
Quando
cheguei as coisas não foram fáceis, morei em uma pousada por uma semana,
procurei emprego em vários lugares mas não encontrava por estar grávida e não
ter documentos até que um mês depois que havia chegado com meu dinheiro
praticamente no limite conheci dona Sofia, recém casada e uma boa pessoa que me
propôs serviço, eu trabalharia na casa dela em período integral, teria moradia,
alimentação e dinheiro para cuidar de mim e do meu bebê. O salário era pequeno,
mas neste momento eu não estava podendo escolher muito, aceitei e comecei no
mesmo dia.
O
trabalho na casa de dona Sofia era ameno, ela era casada com Rafael um jovem
executivo calado e respeitador. Minha vida estava muito boa.
Completei
oito meses de gravidez e comecei a ter um acompanhamento mais intenso, estava
gravida de uma menina e daria o nome á ela de Gessyene Carla, esperava pela
minha filha dia após dia, dona Sofia me dera folga por esses dias, quando
Gessyene Carla nasceu foi o melhor dia de minha vida, sofri no parto, mas
quando vi o rostinho de minha pequena me senti recompensada. Os dias que se
seguiram foi um momento de aprendizado, aprendi a dar banho, trocar frauda
amamentar, fazê-la dormir. E dona Sofia estava do meu lado me auxiliando com
tudo que podia, minha alimentação passou a ser mais balanceada e uma diarista
foi contratada para cuidar da casa durante meus dois meses de descanso
maternidade. No meu quarto de empregadas tinha um pequeno berço, as roupinhas
que trouxera se somaram as que eu havia comprado e Gessyene tinha um
guarda-roupa pequeno cheio só para ela.
Quando
voltei ao trabalho as coisas complicaram um pouco, mas aos poucos fui me
adaptando ao meu novo mundo.
Porém
como tudo em minha vida as coisas começaram á complicar, Rafael teria que se
mudar para Santa Catarina e eu consequentemente perderia o meu emprego. Um mês
depois eles se mudaram e a pior fase de minha vida iniciou-se.
Parte VI
Eu
tinha pouco dinheiro guardado não conseguiria pagar aluguel por muito tempo,
procurei emprego por meses, enlouquecidamente, Gessyene adoeceu e minha vida se
tornou um caos.
Gessy
(minha lindinha) estava com anemia profunda e teria que começar um tratamento
intensivo, mas na rede pública a espera era longa e não tinha dinheiro para
pagar particular.
Infelizmente
não conseguia emprego em lugar nenhum e minha pequena acabou morrendo. A dor
era inigualável, meu mundo caiu, a vontade de viver se esvaiu de mim. Comecei a
beber e pouco depois estava morando na rua, não tinha vida e aguardava a minha
morte apenas.
Eu
comia de dois em dois dias quando conseguia esmola, se não conseguia eu simplesmente
fuçava o lixo e ás vezes passava um mês sem comer nada. O frio na rua era
intenso, no período chuvoso não se encontrava lugar para dormir sem se molhar,
foram dias difíceis.
Ainda
morando na rua eu conheci as drogas, me viciei em maconha, depois em cocaína o
craque me amedrontava, mas experimentei também. O vicio era o que me movia,
comecei a roubar para manter o vicio e fui pega certo dia, roubando uma senhora
em frente á um banco. Na cadeia eu fiquei por um ano, apanhava, era abusada, e
sofri ainda um período de desintoxicação forçado, sofri demais, tinha
alucinações, convulsões e quando pensei que estava prestes a morrer surgiu uma
luz, minha irmã veio ao meu encontro em São Paulo, havia pagado minha fiança e
me aguardava para iniciarmos uma nova vida juntas.
Quando
nos reencontramos a emoção foi intensa, ela me contou que tinha se separado do
Henri á dois anos e que viera para São Paulo começar uma nova vida. Ela havia
aberto uma pequena loja e vivia até bem e queria que eu ficasse com ela em sua
casa e trabalhasse em sua loja. Lhe contei minha triste estória, falei do
orfanato, da minha gravidez, da minha adoção e os estupros, da minha fulga, do
nascimento de Gessyene e de sua morte precoce, do meu vicio e contei
tristemente como eu havia entrado na cadeia e minha cruel vida como interna.
Mas
Tânia estava bem, não tivera filhos com Henri, namorava um belo moço chamado
Mateus, era autônoma e morava bem em São Paulo. Mamãe estaria orgulhosa dela e
eu estava, orgulhosa demais dela.
Fui
morar com ela e pude recomeçar minha vida mais uma vez.
Parte VII
A
loja vendia um pouquinho de tudo e tinha bastante saída, eu era vendedora
juntamente com mais uma moça e recebia minha comissão por venda e parte dos
lucros também. Comecei a estudar durante a noite, estava com 18 anos e
finalmente o futuro parecia sorrir para mim. Quando completei 21 anos eu estava
formada no ensino médio e tinha uma boa quantia de dinheiro guardado, Tânia
estava grávida de Mateus e eles estavam morando juntos. Nesta hora eu senti a
necessidade de ser responsável por mim, estava em outra fase, estava me
qualificando, não era indigente e minha ficha criminal fora limpa á alguns anos
com a retirada da queixa da senhora que eu tinha assaltado.
Quando
minha sobrinha nasceu eu ajudei Tânia a cuidar dela durante os primeiros seis
meses de vida, depois anunciei minha partida, resolvi me mudar para Brasília
DF. Poucos dias depois estava no avião partindo para, agora sim, uma nova vida
deixando todo o resto para traz.
Minha
irmã me deu um pequeno apartamento na Asa Norte em Brasília, mobilhei e comecei
a busca por um ensino superior. Fiz o curso de Gestão financeira no IESB da L2
Norte. Com 23 anos estava concursada e minha nova vida brilhava dia após dia.
Passei
a viver de verdade. Tinha conhecido Angélica no trabalho e nós morávamos
juntas, saíamos e nos divertíamos todos os finais de semana que podíamos.
Voltei a beber e as drogas surgiram aos poucos e infelizmente eu fiquei doente,
estava com problema de memoria e tive que ter acompanhamento por causa de uma
pneumonia. Quando estava melhorando da pneumonia desenvolvi uma anemia profunda
e a vida no hospital passou a ser constante.
Ficava
internada por semanas tomando soro e não apresentava melhora alguma, eu
batalhava para não passar a ter leucemia, mas parecia que Deus havia me
abandonado.
Do
meu lado estava uma menina com leucemia á cinco anos, mas ela era feliz, todos
os dias a sua mãe estava de seu lado, as duas liam a bíblia e faziam orações.
Eu
não entendia o que estava acontecendo, nunca tinha entendido nada sobre
religião, conhecia Deus de longe, acreditava nele, mas nem sabia o por quê.
Certa
noite eu estava sem sono, sentia dores de cabeça e muito enjoo. A mãe da minha
colega de quarto percebeu a minha inquietação.
__
Você está bem Mariely? __ perguntou ela se aproximando de minha cama.
Quando
tentei falar, senti um jato quente subindo pela minha garganta e saindo, ela me
ajudou a ir ao banheiro, depois limpou o quarto. Tomei um banho e meio tonta
voltei á minha cama.
__
Me desculpe __ falei envergonhada.
__
Não se preocupe meu anjo, você está melhor? __ Perguntou ela alisando meus
cabelos.
__
Mais ou menos...
__
Sei bem como é, chega um período que começamos a sofrer mais com enjoo. Mas não
se preocupe, estarei aqui para lhe ajudar sempre que precisar.
__
Obrigado.
Eu
observava aquela mulher com atenção, era prestativa com todos, amiga de todas
as pessoas do hospital e sempre tinha um olhar confiante que brilhava dia após
dia, a filha dela estava debilitada pela doença e parecia desfalecer a cada dia
que se passava, mas não parava de sorrir e crer na cura que Deus lhe daria. Certo
dia, ouvi uma conversa da médica da moça e descobri que eu poderia doar a
medula para ela, fiquei assustada, eu poderia salvar a vida daquela moça e
ninguém sabia disso exceto eu.
Os
dias nos hospitais pareceram mais e mais longos, comecei a apresentar melhoras
e em um mês estava em casa. Mas, apesar de não ver mais a menina do hospital,
adormeci certa noite e sonhei que uma pessoa me procurava e falava que salvar
aquela menina me salvaria também. Quando acordei me decidi, voltei ao hospital
e procurei pela menina, soube que ela estava muito mal e que morreria em menos
de dois dias se não conseguisse doação, me apresentei como doadora, fiz vários
exames e descobri minha compatibilidade, doei no mesmo dia e a menina entrou na
sala de cirurgia, a mãe dela me procurou e agradeceu.
__
Sabia que Deus não nos abandonaria, sabia que você viria e salvaria minha
filha, sempre acreditei... e meu Pai me honrou e te honrará também.
Não
sabia por que, mas neste instante algo em mim mudou. Acompanhei a melhora da
moça (Mayen era o nome dela), participei das festas de família e uma linda
amizade surgiu.
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